sábado, 17 de maio de 2008

não é de minha autoria, mas essa é a minha saudade que dói

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um amigo que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade da amiga de 91 anos que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar de um lado da praia e ele de outro, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o dentista e ela para a casa de alguém, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ele continua fungando num ambiente mais frio. Não saber se ela continua sem usar rosa por causa da mania da mãe de colocar rosa nela, quando era pequena. Não saber se ele ainda usa aquele boné. Não saber se ela foi na consulta como prometeu. Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido as aulas ou só conversado, se aprendeu a entrar na Internet e responder os recados, se ela aprendeu a se acalmar nas horas difíceis; se ele continua não gostando de Amarula; se ela continua preferindo refri; se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados; se ela continua mexendo as pernas quando está nervosa; se ele continua detestando Mc Donald’s; se ela continua detestando carne; se ele continua amando; se ela continua a rir até em filmes de terror. Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos; não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento; não saber como frear as lágrimas diante de uma música; não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ele está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

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