segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Heróica.

Foi quando ouvi meu tio-avô dizer que nenhum poeta sabia amar. Enquanto o rádio chiava em alguma frequência de ondas curtas que só se escuta no litoral gaúcho, entre os goles curtos do seu café mais amargo que de costume, deixou escapar uma verdade inconveniente aos meus ouvidos de criança. Tinha meus treze anos ainda incompletos, os cabelos não chegavam aos ombros, rabiscava meias-verdades em folhas de rascunho, andava descalça em calçada de paralelepípedo, tinha o rosto queimado do sol e o coração inocente demais. Quando completei quatorze anos ele morreu. Não chorei lágrimas e não tive escolhas, mal o conhecia. Aos quinze larguei a poesia, e parti pra prosa. Os cacos do coração eu juntei aos desesseis. Como dizia aquele velho, era doce demais para não saber amar. Inconsequentemente, nem tudo o vento levou. Larguei a poesia, mas ainda levo minha vida em rimas pobres e estrofes decassilábicas. Mas quando falam sobre saber amar alguém, ainda tenho lá minhas dúvidas...