segunda-feira, 28 de abril de 2008

Febril

Latente em minha cabeça, não as tuas palavras, mas sim as dores e não as que tu me causa. Não é a tua presença que me abate, é a minha doença que me corroe. Não é a tua mão que me esquenta nesse frio da noite, são cobertores avulsos de lã de ovelha, e é assim que eu durmo e penso antes de dormir: contanto carneirinhos.
São em dias como hoje que eu olho pela janela e imagino lá fora alguém como tu. Alguém perdido, entre o que eu te roubei e o que tu me deixou.

Frio lá fora, febre aqui dentro.

domingo, 27 de abril de 2008

madrugada: uma e cinquenta e seis

Foi teu cheiro que ficou no meu casaco branco de croché, sem saber como, nem quando e nem onde na noite de domingo. Porque são os meus olhos que se perdem na imensidão tentando te encontrar em lugares que não te pertencem. Tentando buscar teu jeito em outras pessoas, teu sorriso em outros rostos e tuas palavras em outras bocas, que não a tua.
Porque tudo isso não passa? Volta e meia me vêm à boca essa ânsia de te ter, de te possuir. Pena que não posso, estás longe demais. Tu já te fostes, e espero vagando o pensamento e essas palavras, entre as cinzas do teu cigarro, do mesmo domingo e do mesmo instante que eternizaram teu cheiro em meu peito e tuas mãos junto as minhas gélida palmas.
Te espero em qualquer vagão, em qualquer direção. Sei que fostes, quem sabe te encontro num tempo qualquer... Aí, então, não diremos nada pois nada aconteceu e eu seguirei com encanto ao lado teu.

sábado, 5 de abril de 2008

Antes que eu me esqueça, tchau, até nunca mais

Foi porque não veio ontem, nem anteonte e nem nunca mais. Foi porque deixastes tuas coisas pelo chão, deixastes as roupas no varal e sumiu. Foi porque nem as tuas desculpas esfarrapadas foram só minhas, só para mim. Foi porque esquecestes que eu acreditava que tudo aquilo era verdade.
Não culpo o dia que nasceu ao contrário, não me culpo por ter me perdido e nunca ter me encontrado, não culpo as pétalas das margaridas que desfazem-se ao vento e muito menos te culpo - mas como eu gostaria de te culpar por algo, só para ter aquele gostinho de vingança.
Eu culpo as tempestades, eu culpo o que nos quebra em duas cidades, eu culpo as noites que eu não dormi pensando em te encontrar, eu culpo as vezes que eu esperei tu entrar porta a dentro, eu culpo a minha insegurança. Eu culpo a minha culpa e a minha tremedeira, que neste instante, faz meu copo de vidro cair no chão, despedaçando meus desenhos e sonhos num mar de chá de camomila da madrugada de ontem, enquanto esperava tua ligação que justificaria mais alguma coisa.
Não vou pedir para que venhas num fim de tarde de inverno e, se não for pedir demais, por favor, não volta nunca mais e desliga esse telefone agora, antes que eu me irrite e não precisa te preocupar, pode deixar que eu dou um fim no que sobrou de nós na minha memória enquanto eu faço sangrar entre as mãos os cacos do meu coração.