sexta-feira, 3 de maio de 2013

Eu não sei porque um dia imaginei um final feliz pra nós dois.
Maio iniciava, as noites já começavam mais cedo e as folhas de outono já haviam caído quase todas. Era madrugada, o silêncio da apartamento invadia os corpos desde a calçada até o último andar do edifício.
Ela morava no nono. Nove andares de escadas sinuosas que um dia subiram juntos,  num outro flutuaram e tempos depois enfrentou sozinha novamente seus degraus.
Se hoje é silêncio que invade os corpos, outrora foi amor, outrora foi prazer, outrora foi tesão.
Porque nove andares de escada podem ser muito, como podem não ser nada.
E nada no mundo do tudo que poderia ter sido e não foi é tudo que se deixou pra trás, tudo que não se ousou dizer.

Podia haver uma história, mas se calou vezes demais. O que foi dito já nem faz sentido.

É só mais um motivo pra dizer que esse tal final feliz foi ter buscado outros finais felizes pra uma história sem fim e nem meio.


Ainda faz outono lá fora, outra vez.


A vizinha ainda ouve música clássica em horários impróprios.
O livro do Quintana ainda marca o poema do espantalho inútil.
As cinzas do incenso, ainda cinzas.

Não há espera, não há desilusão.
Inútil seria imaginar um final feliz pra quem nunca existiu.

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