quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Notas sobre uma doença invisível II

Hoje foi o dia em que todas as dores e náuseas já tão familiares nesses quase dois meses fizeram sentido. Foi hoje o dia em que descobri o que tenho. Ileíte. Depois de descartadas tantas possibilidades, tantos exames feitos, tantos possíveis graves diagnósticos, hoje tive um diagnóstico definitivo. Hoje confirmei pra mim e pro mundo que tudo isso que eu sentia não era invenção da minha cabeça. Eu, um dos casos mais complexos que meu médico já teve - segundo ele. Porque nada é pior do que convencer alguém de que se sente dor. Mais do que isso: nada é pior do que teu médico dizer que não entende porque tu sente dor. Hoje o mundo voltou a sorrir, voltou a fazer sentido.
Eu nunca senti tanto medo de abrir um envelope, pedi pro meu médico abrir e foi como se meu ser voltasse a órbita. Eu sei que é impossível ter a vida de dois meses atrás de volta porque muita coisa aconteceu, muita coisa me fez diferente e nem eu mais sou a mesma. Não sei quantos anos envelheci nesses últimos dois meses, mas me vi muito mais adulta e forte do que eu imaginei ser.
Melhor do que ter alta hospitalar é saber o que se tem. Hoje vou deitar a cabeça no travesseiro e dormir sossegada. Não quero a minha vida de dois meses atrás de volta, só quero ficar bem outra vez, fazer tudo que eu fazia outra vez e sei que isso tá cada vez mais perto. Pode ser que seja pra toda a vida, pode ser que eu tenha crises, pode ser que sempre precise de medicação, mas aquele engodo passou. O choro contido e guardado na garganta desde a última internação, duas sextas-feiras atrás, foi embora.
Agora é hora de florir primavera e esperar o verão chegar aqui dentro.

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