quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Bolero

Quero dormir com meu amor
que lá no calor dele no abacateiro de seu tronto
não há dívidas, dúvidas, espantos
Lá parece domingo
na copa do sovaco cheiroso dele
Lá parece piquenique
parece simples mas é chique
morar no abraço do meu amor.
Não há temor
os medos fogem todos para a segunda-feira
e eu fico lá como um colibri pousado
no galho terno daquele feriado.

No beijo dele não há bancos
credores, cobradores, telefonemas,
moras, ameaças, perigo
lá fica longe todo o castigo
Eu sussurro, gemo, berro, grito
me aninho me esfrego
defendo o samba bom aos poucos
mas sem esforço.

Quero dormir com meu amor
sem gravidade no dorso
sem tempo-idades
naquele sábado dele
naquela missa
naquele terreiro
me cubro com seu carinho
como se fosse um xale.

Fico lá escondida, fugida
da pressão dos dias úteis
fico protegida e sem ultrajes
Fico charme e caule
dois pra lá dois pra cá
Bolero naquele baile.


Elisa Lucinda

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

guardo nossos recuerdos numa lata de biscoitos.
mas não uma lata qualquer.
guardo na lata mais bonita que já ganhei,
para que minhas lembranças de ti

sejam sempre doces

não doce de canela, mel, hortelã
mas o doce dos melhores sabores que já senti.

do bom gosto nos olhos, lábios e ouvidos guardo outras lembranças
que não cabem em nenhuma lata de biscoitos.

sábado, 4 de setembro de 2010

se um dia o amor virasse samba

eu me pergunto se é meu choro baixinho que vai cortar a noite e embalar a madrugada
me pergunto se eu quero ou se espero nosso encontro acontecer
se me despeço dos teus braços ou se me perco e me encontro no calor do teu abraço.
entre as coisas tais, muito além das casuais
eu procuro uma saída sem sair da tua vida
pois não quero, pois não posso,
compreender coisa alguma
sem o cheiro da tua pele sem o cheiro de nós dois
naquela parte do teu corpo aonde o ombro vira pescoço
e depois dormir em paz.

sábado, 28 de agosto de 2010

Até o ano passado eu sempre me achava muito certa de tudo e de mim. Achava que meus planos sempre dariam certo e que tudo sairia sempre como o planejado. Fiz desessete anos, e estou prestes a fazer dezoito: mais do que nunca sei que as idades não dizem nada. Nunca envelheci tanto do que nesse 2010, e falo de envelhecer mentalmente. A escola não permite que sejamos velhos, ela mantem nossa jovialidade transparecer o tempo todo. Das coisas do ano passado, talvez essa seja a que sinto mais falta. Poder falar o que penso, ser o que sou, além de uma saudade absurda das pessoas. Essas foram as coisas que 2009 deixou em mim: saudade.
Lembro que nos dias que tinha aula nos dois turnos, pensava no quanto queria que tudo aquilo acabasse; hoje penso diferente. Se pudesse eu queria apenas uma semana dessa rotina, desses gostos e dessas pessoas que me faziam muito bem e me entendiam.
Me sinto numa "entre-fases", que me fez me entender mais e me tornou mais egoísta também, me ensinou que as verdadeiras pessoas nunca mudam mas nós mudamos.
Aposentei meus sonhos de futuro do passado, mesmo sem ninguém entender o que chamo de aposentar. Deu lugar a outros, entendi, talvez, o que vai me fazer bem. Outra das coisas que aprendi é há, as vezes, saber tomar as decisões certas (ou as não tão erradas).
O tempo é muito tirano com as pessoas, nos pressiona a cada vez mais cedo decidir o que vamos ser quando nem sabemos quem nós mesmos somos. Até pra mim que pensava saber tanto de mim mesma, agora vejo que sei pouco. Vejo que tem gente que sabe mais dela do que eu. Sei das coisas que eu gosto, do que me completa, do que me satisfaz... Mas na hora de dizer quem eu sou ou quem quero ser ainda fico na dúvida. Preciso tomar decisões rápidas, o tempo tem sido muito tirano, quero que ele passe pra eu me ver evoluir e pra quem sabe me encontrar em mim.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

do tédio com você

Horas fora de compasso, roupas amarrotadas, lençois embolados pelos cantos, gosto de café ou menta. Depois de ter você, se caso o tédio chegasse, sei que tu faria um barquinho de papel pra que fugíssimos. Eu, com o pedaço de papel, faria estrelinhas coloridas, pra brilharem em ti. Mas se não houvesse papel inventaríamos histórias, motivos pra rir, brincadeiras sem fim até que eu me calasse. Quando tu perguntasse com teus olhos pretos e brilhantes "o que foi que houve?", depois de um sorriso branquinho e bonito sei que o suposto tédio iria todo embora - se é que um dia fosse sequer existir.
Quando te tenho aqui jamais conto as horas: meu descompassado segundo acelera e eu tenho medo de contar os minutos. Mas quando tu te vai fica esse vazio pela tarde. Eu tento relembrar teus artifícios, mas tua presença é algo que mente nenhuma poderia transpor a realidade. Depois de te ter, fica esse tédio diferente do que tenho contigo. Não o tédio da nossa preguiça, mas o tédio da nossa saudade.