Aos dezesseis construí detrás da porta do quarto um mural de recortes de revista, cujo qual nunca terminei. Por muitas e muitas vezes quis findar, encerrar; e procrastinei tantas e tantas vezes que, quatro anos depois, os recortes continuavam lá, detrás da porta do quarto, grudados com durex, a minha espera, amarelados, admito, mas lá. Nunca os atendi.
Aos quase vinte anos mudei as prateleiras do quarto, doei roupas sem uso, me desfiz dos bichos de pelúcia, mas os recortes, estes continuavam lá.
Foi bom enquanto durou nossa existência, eu pensei. Foi bom enquanto compreendia o que aquilo me dizia.
Levo os recortes todos comigo, guardo tudo com carinho. Talvez comece tudo outra vez, talvez não. E eu, que gostava tanto de escrever sobre os talvezes, volto a escrevê-los. Talvez encontre outros recortes, sim, e continue guardando tudo aqui dentro.
Recortando, todo dia, mas guardando tudo quietinho, sem gritar, sem expor; porque é assim: a gente ser, estar, em construção.
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