terça-feira, 1 de outubro de 2013

conversas hospitalares II

Ainda sobre os pontos & as cicatrizes:
- Tu gosta de praia, né?
- Gosto, bastante.
- Eu vi. E vai ser um problema...
- O que, doutor?
- Ficar três meses sem pegar sol nessas cicatrizes.
- Ah, se bem que três meses é janeiro. (Fazendo as contas com a mão.)
- Se pegar sol usa protetor cinquenta nelas, principalmente na grande, na do lado também, a do umbigo não precisa tanto...
- Mas o que tu viu, doutor?
- Vi essa marca de biquini aí. Ninguém tem marca de biquini em setembro, só quem gosta muito de praia.

conversas hospitalares I

Pós-cirurgia, retirando os pontos:
- Não olha nem se mexe - disse o médico.
Curiosa, não me mexi, mas olhei. Uma poça de sangue na região supra-pubiana, entre o umbigo e a vulva, quase transbordando.
- Vai doer um pouquinho...
- Hmm. Ai! Ah, nem dói tanto. Há coisas que doem mais.
- É, tipo tatuagem. Tu já fez tatuagem?
- Não, doutor. E o senhor tem tatuagem?
- Não. Se bem que agora vários homens se tatuam...
- Tem problema ser homem e ter tatuagem, doutor?
- Não, mas biologicamente, na resistência à dor, vocês,  mulheres, vão sempre ter vantagem.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013


setembro, quarenta graus em porto alegre em pleno inverno. horas de espera na emergência. dói aqui? dói. exames, exames. internação. mas o que eu queria era falar sobre como convenci um enfermeiro a me deixar tomar banho na sala de observação da emergência,
ou "o dia em que aline encarou a enfermaria"
- parafraseando "o dia em que dorival encarou a guarda".

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Inspirações III

amar o perdido
deixa confundido
este coração.

nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

as coisas tangíveis
tornam-se insensíves
à palma da mão

mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(drummond)

- e ir aonde o vento for

das ironias da vida que compreendi nos últimos dias
ainda engasgo pensando no ritmo das coisas inexplicáveis e irremediáveis.
ainda exito na linha tênue entre o mundo onírico e o mundo real.
ainda, ainda.

há, nesse amontoado confuso de lembranças transpostas pro presente,
algo que me faz pensar se tudo está onde deveria estar.
ou, ainda, se eu estou onde deveria estar.
não sei, não sei.

como saber?

fecho os olhos e me coloco no tempo presente:
pessoas transpostas de lugar, tempo-espaço desconexo,
músicas descompassadas, o tempo voando.

a vida me fazendo me sentir pequena perto do universo
esse tão grande, tão sábio.
uma fita-cassete rebobinada e amassada,
em que a tela da tevê (minha retina, no caso), não reproduz a ordem exata dos fatores,
mas a ordem arbitrária daquilo que o mundo quer que eu veja, viva.

eu, tão pequena.
o universo tão imenso
noite adentro
lá fora.