terça-feira, 21 de maio de 2013

True Love

- Eu nunca conheci, nunca falei, nunca estive com um garoto com quem eu pensasse em me abrir totalmente. Creio que o motivo de você estar com alguém é que pode conversar e contar tudo até quando está naquele pior momento... E mesmo assim ele gosta de você, conversa e se preocupa.
- Mas você não sente que encontrou alguém assim?
- Não, quem na minha idade encontra um amor e permanece com ele para sempre? Isso não acontece.
- Tudo na sua idade é complicado, vai achar alguém assim. No final disso tudo terá uma amizade, não?
- É isso que eu quero. Uma amizade verdeira com alguém. Alguém que possa confiar todos os meus segregdos, meus hábitos estranhos, minhas pequenas nerdices.

 ... E ainda assim ele me amar.

(Holly & Karen)


(para assistir online: http://www.seriesparaassistironline.com/2012/06/assistir-serie-true-love-online.html)

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Eu não sei porque um dia imaginei um final feliz pra nós dois.
Maio iniciava, as noites já começavam mais cedo e as folhas de outono já haviam caído quase todas. Era madrugada, o silêncio da apartamento invadia os corpos desde a calçada até o último andar do edifício.
Ela morava no nono. Nove andares de escadas sinuosas que um dia subiram juntos,  num outro flutuaram e tempos depois enfrentou sozinha novamente seus degraus.
Se hoje é silêncio que invade os corpos, outrora foi amor, outrora foi prazer, outrora foi tesão.
Porque nove andares de escada podem ser muito, como podem não ser nada.
E nada no mundo do tudo que poderia ter sido e não foi é tudo que se deixou pra trás, tudo que não se ousou dizer.

Podia haver uma história, mas se calou vezes demais. O que foi dito já nem faz sentido.

É só mais um motivo pra dizer que esse tal final feliz foi ter buscado outros finais felizes pra uma história sem fim e nem meio.


Ainda faz outono lá fora, outra vez.


A vizinha ainda ouve música clássica em horários impróprios.
O livro do Quintana ainda marca o poema do espantalho inútil.
As cinzas do incenso, ainda cinzas.

Não há espera, não há desilusão.
Inútil seria imaginar um final feliz pra quem nunca existiu.

domingo, 14 de abril de 2013

Inspirações II

você pode até dizer que eu tô por fora
ou então que eu tô inventando
mas é você que ama o passado
e que não vê que o novo sempre vem

Inspirações I

olhos nos olhos, quero ver o que você diz
quero ver como suporta me ver
tão feliz

sábado, 12 de janeiro de 2013

"creo que he visto una luz al otro lado del río"

Foi quando cruzei o outro lado do rio e entrei numa das salas de aula do colégio onde estudei - não mais com os olhos de aluna - mas com outros olhos. Esses, no princípio um pouco tímidos, tão ressabiados, tão cheios de angústias, de dúvidas. Lembro que um pouco antes, li, pra uma das cadeiras de Educação, um texto que falava sobre a construção da identidade docente ser feita na prática, pelas incertezas. Incerteza me lembrou um rio, dois lados, águas a atravessar.
Não tive dúvidas: Jorge Drexler ecoava na minha mente e eu podia sentir cada acorde entrando em sincronia com os meus pelinhos arrepiados - "En esta orilla del mundo lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz al otro lado del río". E foi assim.
Enfrentei, ainda do outro lado do rio, as salas de aula da minha adolescência, com adolescentes tal qual os que eu era. Identificava em cada um daqueles jovens sentados nas carteiras, as características dos meus colegas do Ensino Médio. E buscava, em silêncio, no cantinho da sala, quase imperceptível, onde tudo isso tinha começado mesmo, e ainda como eu tinha parado na Faculdade de Letras, todos os caminhos que tinham me levado até lá.
Em um segundo, tanta coisa passava em minha mente. E eu, sentada do outro lado do rio, com olhinhos brilhantes, sendo quase invisível aos trintas e tantos outros pares de olhinhos.
No início, entrava na sala de aula e só sorria, encantada. Com o tempo fui me soltando, ameaçava falar algumas coisas, não sabia como me portar na frente dos tantos olhinhos (acho que ainda não sei, quem sabe saberei?) e ainda sujo completamente a minha roupa de giz.
Não sei quando eles começaram a ser um pouco meus, mas hoje eles tem um lugar aqui, só deles. Ainda me pergunto se eu fui algo para eles. Fora os materias que preparava, as provas que corrigia, as resenhas em que podia saber o jeito ímpar de cada um escrever - que eram as predileções dadas a mim pela bolsa de Monitoria Acadêmica - entrar nas salas de aula fez crescer lá dentro algo que eu não sabia o que era, e que eu não sei descrever.
Da primeira vez que me chamaram de sôra, pude entender a estrofe que diz "Oigo una voz que me llama casi un suspiro". Quando entendi esse quase suspiro, me dei conta que, depois de tanto remar, já estava no outro lado do rio. Tanta coisa fazia sentido, tanta coisa ainda não fazia sentido. Das certezas, só uma: não tinha mais volta.
Quis saber os nomes um a um (não decorei todos ainda!), mas me sentia tão feliz de juntar o par de olhinhos que me viam às letras impressas nos trabalhos que eu corrigia. Um universo era formado pra cada pessoinha: o que faziam, o que pensavam. Curiosa, será que o que eu pensava faz sentido?
Da primeira vez que fiquei sozinha com eles, meio às avessas, tive que inventar uma aula em cima da hora devido a imprevistos. Tadinhos, não guardo remorsos. Guardo só a lembrança dos meus nervos a flor da pele, de um frio na barriga imenso e do pensamento "- Nossa, eles até que foram queridos".
Não sei se algum aluno meu vai ler isso... Mas eu precisava dizer: hoje foi o último dia em que vi aquelas duas turmas de 2º ano juntas e, talvez, seja a última vez em que vou ser a profe deles. Eu queria, de verdade, que soubessem o quanto me apeguei a eles e o quanto esse distanciamento me dói, embora eu estivesse sempre nos camarotes, sem ser protagonista, mesmo sendo essencial.
Queria que eles soubessem que sempre lembrarei deles como os primeiros a me chamarem de profe, ou de sôra, ou sôra Aline.
Aqui fica o meu sincero obrigada por terem deixado em mim só lembranças boas das minhas primeiras vivências docentes.
E, se valer um conselho de tia, se acreditarem terem visto uma luz do outro lado do rio, remem até lá. Essa luz, ela existe.

Eu encontrei a minha.