quarta-feira, 15 de outubro de 2008

depois do vendaval, a calmaria

Antes desse raiar de alegria eu queria ter outras vidas, falar outras línguas, gostar de outros gostos e detestar outras coisas. Agora, depois da minha própria aurora, quero a segurança de um abraço forte, a sinceridade de dizer meu nome sem tropeçar nas três sílabas e sem mentir a minha idade. Eu quero um despertar à três acordes ou uma cantiga de roda ao pé do ouvido, quero coisas jamais antes pensadas, jamais antes imaginadas. Quero a certeza do infinito enquanto dure, não a tristeza do 'pra sempre' assim como a ilusão do eterno.

Depois de algum tempo, finalmente, se entende do que valeu tanto sofrimento, tanta dor, tanto frio. Das perguntas sem respostas, essa era uma delas. Olho para o céu e depois de dois dias de céu cinza e chuvarada, o céu começa a limpar. Suspeito, eu diria, assim como as coisas que vêm se esclarecendo e tomando seu devido lugar.

Sim, se entende e se compreende. A dor é aceitável e justificável pra ver florescer tudo novamente. Em outras palavras, ou se aceita ou se abre mão.


Eu aceito a vida intensamente.

domingo, 12 de outubro de 2008

Uma pá de gente que não vale um centavo me pergunta sobre a veracidade do meu ser e dos meus sentimentos. Contenho a risada. Por mais irônico e hipócrita que seja, é deprimente. Pelo jeito, depois de um bom tempo, eu realmente aprendi que eu não preciso que acreditem em mim para que eu exista de verdade.

Mas eu sei até de cor os alguéns que eu me importo que acreditem na minha sinceridade. Sobre os outros, restam os meus indícios entre tanto faz, seilá e talvez. A minha sinceridade é fundamental, acreditem se quiserem.
O meu muito é, talvez, bem pouco. Acordar cedo em um domingo é sinal de que a madrugada não foi habitada por aquelas palavras e aqueles sorrisos que me fazem bem e que, quando ausentes, fazem falta, há um bom tempo. Enquanto minha mãe me fala das horas que eu não durmo, perder o sono pelos meus motivos é bem mais excitante do que deitar no meu travesseiro e sonhar todos os sonhos que cabem dentro dele. E, enquanto ela fala, eu lembro que essas horas, esses minutos são sim os melhores do dia.
O meu muito é, realmente, bem pouco. Não só pelas coisas realizáveis, mas também pelas minhas vontades. Por querer descobrir coisas mínimas do teu dia e compartilhar contigo coisas absurdas aos insensíveis; por querer te dar um abraço forte de bom dia e querer errar o ponto do teu café fraco com todos os meus dotes culinários. Enquanto minha lucidez se tele-transporta pra perto de ti segundos passam e refletem uma imensidão.
A tradução de imensidão, pra mim, são todos os detalhes, todas as imperfeições, todas as singularidades da tua pessoa. Mesmo quando eu acho tudo parecido demais comigo, tudo tão familiar e me assusto mesmo assim.
Hoje é Dia das Crianças, lembro de ti falando que era meu dia, mesmo eu não me sentindo nenhuma criança perto de ti. Lembro da mãe hoje de manhã cedo me abraçando e me entregando dois pacotinhos: dentro deles, chocolate e um livrinho. "Sorrir" dizia na capa, ela dizia que tinha achado a minha cara.
"Você sorria e falava comigo sobre coisa nenhuma e eu sentia que tinha esperado por isso tempo demais", eu e minha mania de bisbilhotar livros ao contrário, essa era a última página. E eu sentia, mais uma vez, que o meu muito, o que me faz muito feliz é realmente muito pouco. Muito simples, muito pouco mas muito para mim. Um universo que abrange de olhares e coisas-nenhumas que valem mais que mil palavras.

Não me arrependo e não trocaria essas alegrias por coisas poucas. Não mesmo.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"Talvez sejam só fazes, ou nem isso. Talvez sejam só dias ruins, mesmo. Ou horas ruins. O único problema é que eu nunca sei lidar ou reagir a esses dias. Às vezes a distância mais mínima faz com que eu me sinta sem rumo, faz com que eu me sinta sem saber se tudo é do mesmo jeito e se até o que eu sinto continua igual. Na maioria das vezes até continua, sempre mais, sempre maior... Mas a idéia de não ter alguns sentimentos tão próximos e algumas presenças tão presentes em mim me assustam de uma forma inenarrável. (...)"


parte-começo da pseudo-carta que eu escrevi no meio da aula de física, sem controlar a mente e os olhos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Heróica.

Foi quando ouvi meu tio-avô dizer que nenhum poeta sabia amar. Enquanto o rádio chiava em alguma frequência de ondas curtas que só se escuta no litoral gaúcho, entre os goles curtos do seu café mais amargo que de costume, deixou escapar uma verdade inconveniente aos meus ouvidos de criança. Tinha meus treze anos ainda incompletos, os cabelos não chegavam aos ombros, rabiscava meias-verdades em folhas de rascunho, andava descalça em calçada de paralelepípedo, tinha o rosto queimado do sol e o coração inocente demais. Quando completei quatorze anos ele morreu. Não chorei lágrimas e não tive escolhas, mal o conhecia. Aos quinze larguei a poesia, e parti pra prosa. Os cacos do coração eu juntei aos desesseis. Como dizia aquele velho, era doce demais para não saber amar. Inconsequentemente, nem tudo o vento levou. Larguei a poesia, mas ainda levo minha vida em rimas pobres e estrofes decassilábicas. Mas quando falam sobre saber amar alguém, ainda tenho lá minhas dúvidas...