O telefone toca. São exatas cinco horas da tarde, eu sei que ele toca pra mim mas me distraio entre as páginas do caderno de cultura do jornal. Atendo o telefone procurando pela voz de um ano atrás e não pela que eu ouço. Procuro em abraços de outros os que eu não tenho mais. Procuro no voletom verde o cheiro que já não há.
A voz continua a me falar coisas (sem nexo) e eu penso em desligar na tua cara, por não receonhecer a tua voz. Queria mesmo era ligar praquele número que eu rebusco na memória...
A voz do outro lado do telefone (aquela que eu não reconheço) continua a me chamar e eu muda, quieta, atônita, sem me mover. Não, eu não falo nada! Sim, eu procuro pela outra voz, pela outra forma de chamar meu nome!
três, dois, dois, sete, nove, três, três e quatro.
Eu ainda me lembro?
O telefone toca duas vezes, atendem, eu pergunta pela voz que eu conheço e não, ela não está. tututututu...
"Mudaram as estações
Nada mudou
Mas eu sei que
Alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim
Tão diferente..."